segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Estímulos Fiscais

Parece cada vez mais que os fabricantes de automóveis vão beneficiar de um pacote de ajudas governamentais. Isto jã não é apenas um bailout, já não se trata de salvar companhias que proporcionam benefícios indirectos ao resto da economia.

A ser verdade, tratar-se-à de um pacote de estímulos fiscais escolhido estrategicamente. Podemos ou não concordar com a existência deste estímulo (eu concordo, talvez não para a indústria automóvel) e podemos discutir se o governo não deveria antes estar a entregar este dinheiro aos consumidores (eu não concordo), reduzindo os impostos, por exemplo.

Escrevei primeiro sobre a última questão. Por que razão estimular parte da economia de forma aparentemente ineficiente? Afinal de contas o mercado e o sistema de preços têm uma vantagem comparativa enorme (em termos informacionais) para definir o que deve ser produzido e qual a forma mais barata de o fazer. Se o Estado o fizer, apenas por sorte acertará na combinação certa de onde investir.

No entanto, em alturas de urgência e na presença de assimetrias de informação (em que umas partes sabem mais que outras sobre o futuro de uma empresa), o mercado sofre de problemas de coordenação. Estes problemas podem levar ao atraso e à duplicação de investimentos que fazem parte de um processo de tentativa, erro e processamento de informação que é muito benéfico em tempos normais, mas que pode ser muito custoso em situações urgentes. Esta ideia, explorada por Patrick Bolton e Joseph Farrell, pode ser aplicada no contexto dos dias de hoje.

Não é possível estimular a produção dando dinheiro aos consumidores se eles se recusarem a comprar bem duradouros, ou a investir no que seja, quando vêm algumas das companhias mais importantes da sua vida falir e fechar portas. Entretanto, perdem-se largas quantidades de capital específico e o mercado efectivamente congela enquanto percebe no que é rentável investir. Os períodos de crise não são a melhor altura para aplicar a destruição creativa, porque neste contexto tudo é passível de ser destruído. E por mais que eu deteste carros, e reconheça inúmeros problemas em o Governo poder ser capturado por interesses especiais ou por ideias de grandeza por parte dos seus líderes, a perspectiva de bater um fundo muito fundo parece-me muito pior que o custo de erros pontuais.

PS: Se alguém quiser o paper que o peça nos comentários que eu envio para o email. É especialmente recomendado e socialistas liberais em crise de identidade e a libertários em conflicto interno.

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