quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Alegria

No seu último post, Gonçalo argumenta que as políticas de estabilização da economia são importantes porque a felicidade é afectada com as variações do ciclo económico. Primeiro que tudo, concordo completamente que a estabilização económica é um bem, como o demonstra a preferência que as pessoas demonstram por seguros e poupanças que ajudam a estabilizar o nosso consumo. No entanto, o Governo não parece ser muito bom nisso...

Uma questão que se levanta, no entanto, é se o Governo deve tentar fazer as pessoas alegres. Se isso for o caso, sugiro que se desvie todos os investimentos públicos para o Benfica. Imagino que faria muitos portugues extremamente felizes. Ou então que ofereça subsídios e não impostos sobre o alcóol.

Outra questão ainda é que tem que se ter cuidado com as conclusões tiradas deste estudo. Será que o facto de estar-se casado tem uma grande influência no nosso "bem-estar" implica que se todos nós fossemos casados à nascença com outra pessoa aleatoriamente seríamos todos mais felizes?

6 comentários:

  1. Sim ao Benfica (mas não muito e tem de ser pela calada se não perde piada), não ao alcóol (pah), claro que não é bom estar casado desde nascença, nem é bom ter emprego desde nascença e ter emprego para sempre se esse emprego for completamente inútil (se for pela calada pode ser, como no Benfica).

    Ninguém pensa que o Estado pode eliminar os ciclos económicos. Mas há aqui uma diferença fundamental entre nós: quais os custos de ajustamentos bruscos? E devemos atenuar estes ajustamentos ou não?

    Os ajustamentos podem ser retardados pelo Estado, alguns empregos podem ser mantidos, uma fábrica de 2000 pessoas pode reduzir para 1500 em vez de fechar.

    E nisso o Estado é bastante bom. E mesmo que seja apenas redistribuição é importante perceber que o rendimento não é a única coisa que importa às pessoas.

    Um ano no desemprego não é brincadeira.

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  2. Gonçalo, exactamente como dizes o Estado é bom em evitar que uma fábrica de 2000 pessoas feche e fique apenas com 1500 pessoas.
    Mas, obviamente, como toda as intervenções do Estado, tem efeitos nefastos noutros sectores. E é nessa luz que se deve analisar todo o tipo de intervenções. Fechar os olhos a isso é tentar negar evidências.
    Por exemplo, o facto de que são sempre as empresas grandes a ser ajudadas, implica uma concorrência desleal com as PMEs. Ou, ajudar os trabalhadores empregados a manterem os seus empregos ineficientemente, pode levar a um aumento do desemprego noutros sectores.
    É lógico que passar um ano, ou dois anos, no desemprego custa muito. Por isso se deve ajudar os trabalhadores que peredem os seus trabalhos através de subsídios de desemprego, ou ajudá-los a aprenderem uma nova actividade noutro sector, ou promover que criem novas empresas. Mas ajudar a fábrica a não fechar é só perpetuar uma situação que não pode sobreviver e perpetuar a dependência do Estado.

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  3. Paulo,

    A política proposta por ti não é fundamentalmente diferente daquela que o Gonçalo propõe.

    Esqueces os efeitos nefastos da atribuição de subsídios e oferta de formação profissional - nomeadamente o enorme e tão bem comprovado risco de dependência dos subsidiados (ou apenas o factor de desincentivo, mas não sei se está bem estudado), de corrupção ou ineficácia dos detentores de poder de decisão de atribuição de subsídios, da concorrência desleal do Estado face às empresas que vendem formação, de concorrência desleal no mercado de trabalho entre pessoas a quem foi oferecida formação e aquelas que não a puderam pagar.

    Tu próprio dizes que qualquer intervenção tem factores nefastos - tens também de concretizar a afirmação na tua proposta.

    O que existe é uma linha contínua entre mais ou menos protecção, com o custo de mais ou menos eficiência, e o que propões, apesar de estares a querer exibir pose "libertarian", é um ponto muito próximo daquele que o Gonçalo defendeu.

    Diogo

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  4. Diogo,

    Logicamente, as políticas que eu proponho têm efeitos nefastos como qualquer outra. No entanto, eu proponho uma ajuda directa aos trabalhadores por várias razões:
    Primeiro, porque não ajuda aqueles que estão na situação em que estão principalmente por decisões incorrectas do passado.
    Segundo, porque é uma ajuda apenas temporária. Ao contrário de bail-outs às empresas que não dão incentivos à eficiência dessas empresas, dando antes uma ajuda temporária àqueles que se vêm afectados pela crise, para conseguir arranjar um novo emprego num sector mais ineficiente.

    Paulo

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  5. Para fechar o propósito do meu comentário inicial, sobre a distância entre a tua posição e a do Gonçalo, tenho apenas a dizer que estamos de acordo: a distância existe. Mas não podes negar que é pequena. Difere apenas no pormenor da solução, não na linha de fundo, que é a necessidade de uma intervenção muito robusta do Estado no mercados mais afectados pela crise.

    (Perdoa-me a biqueirada no fim: era apenas o estrebuchar de quem se fartou de ver pessoas deslumbradas com as repostas universais que tendem a existir quando os modelos são demasiado simplificados. Não necessariamente dirigido a ti.)

    Não fico nada satisfeito com as duas justificações que apresentas agora. Começo pelo segundo ponto: o tipo de ajuda que propões dificilmente é temporária. Não existe maneira fácil de limitar temporalmente quer as transferências directas quer a formação especializada (que requer instalação de estrutura); é de esperar grande inércia na desactivação desses instrumentos.

    O primeiro ponto faz-me ferver um bocadinho mais o sangue. Não quero acreditar que seja a tua convicção profunda que as empresas falham maioritariamente porque foram tomadas decisões incorrectas no passado. Esse é a música que cantam os pundits populistas, os dirigentes sindicais (ainda hoje o Carvalho da Silva veio com essa conversa) e os media que não se importam de explorar os nossos preconceitos para ganhar quota de audiências, não quem sabe o que é um modelo, o que são parâmetros, e como uma alteração mínima num parâmetro exógeno pode ditar que uma empresa deixe, simplesmente, de fazer sentido ou que um sector inteiro entre em crise. E isto é especialmente verdade em sectores muito estabelecidos e muito concorrenciais, em que os modelos de negócio têm de ser levados ao limite das tolerâncias da variação de parâmetros (porque todos os que se dispuseram, ao longo do tempo, e em concorrência, a adoptar os modelos mais extremos, expondo-se a maior risco mas com maior rentabilidade que os concorrentes menos audazes, são os que hoje existem – e a única maneira de evitá-lo seria intervenção precoce do Estado, com consequências devastadoras numa economia globalizada). Não há motivo nenhum para a achar que as empresas fecham predominantemente porque os empresários são maus e não porque essa é a lógica do mercado. Basear qualquer política nessa assumpção é irresponsável e, sinceramente, pouco saudável

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  6. Diogo

    Quanto aos teus comentários.

    Primeiro em relação ao lado não temporário da ajuda, tenho que te dizer que tens toda a razão. Mas o que eu defendo é exactamente isso, criar mecanismos permanentes para ajudar pessoas temporariamente em caso de necessidade. Ou seja, o que deve ser temporário é a ajuda às pessoas, não o mecanismo. Assim, faz sentido o subsídio de desemprego ou a formação para os trabalhadores despedidos e ajuda na busca de um novo emprego. No entanto, estes mecanismos podem ajudar outras pessoas no futuro e, para além disso, são muito mais pequenos do que ajudar a manter companhias monstruosas como a General Motors ou a Ford.

    Quanto ao outro ponto. Também é verdade, como tu dizes que existe uma variedade de parâmetros exógenos que podem afectar a rentabilidade de uma empresa ou de um sector económico. Mas é por isso mesmo, que, numa economia de mercado, se deve deixar que seja a "lei do mercado" a decidir quais são os sectores do futuro, e que empresas devem sobreviver. Quando digo que estas empresas não devem ser desculpabilizadas por "decisões incorrectas" digo apenas que devem acarretar com os riscos que as suas decisões tomaram, tal como acarretaram com os riscos quando elas foram vencedoras antes. Tentar salvar uma empresa pelo simples facto de que ela é muito grande e pode cair, é estar a evitar este processo de criação de valor tão típico das economias de mercado, baseado na constante tentativa e erro. As empresas que não sobrevivem no mercado devem, de facto, cair para dar lugar a outras, mais eficientes ou que estão mais preparadas para satisfazer as necessidades dos consumidores. É assim a lei do mercado.

    Para além disso, perdoa-me, mas custa-me a acreditar que uma mudança de um pequeno parâmetro exógeno dite que, de repente, empresas como a General Motors, com um rendimentos anuais que andam por volta dos biliões (europeus) de dólares precise "repentinamente" de 4 mil milhões de dólares para sobreviver. Antes pelo contrário, muitas das empresas que estão a pedir ajuda agora, já se viam em apuros há uns anos e apenas aproveitaram a crise para tentar juntar-se ao barco dos "bail-outs".

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